Histórias de Parto e Nascimento

Cada chegada e cada nascimento é único

A chegada de Ulisses

Por Sabrina Bronzatto

Eis que aos 14/09 chega ao mundo nosso tão esperado Ulisses, depois de 41 semanas e 4 dias na barriga da mamãe e de duas indicações infundadas de internação (em 41+1 e 41+2), nesse sistema falho e impositivo de conduta médica brasileira que contraria a OMS. O parto natural é um evento fisiológico, um processo intenso de descobertas, de dor, de desafios, assim como de êxtase e de felicidade, da possibilidade de transcender nossos limites e da sensação de que somos capazes. Um processo no qual é preciso ser subversivo e acreditar na natureza, assim como é preciso ter um suporte humanizado e responsável. Acima de tudo, é preciso acreditar que, na maioria das vezes, o parto pode e deve ser protagonizado pela mulher e não pelo(a) médico(a) e pelas intervenções. Meu eterno agradecimento a Alain Souza e Clarissa de Leon, que estiveram ao meu lado o tempo todo, e também aos familiares e aos amigos que respeitaram o nosso tempo e o tempo do Ulisses. Seja bem-vindo ao mundo, Ulisses! (Re)nascemos juntos. ❤

A chegada de Miguel

Por Mariana Maziero Deliberalli Freire

Foi muito importante e fundamental esse acompanhamento do pré natal do Moara. Pois apesar de ter lido e pesquisado algumas coisas sobre, conforme foi ocorrendo os encontros, pude adquirir mais informações atualizadas, esclarecer minhas dúvidas, desmistificar várias coisas, entender o processo e a fisiologia. Deu todo subsídio, e ajudou muito a fortalecer o empoderamento e as escolhas minhas e do meu parceiro, também nos auxiliando no pós com as conversas e informações sobre essa outra fase.

As avaliações, atenção, a empatia e o olhar humano fizeram toda diferença pro processo de construção e formação da nossa família.

Foi por isso q cheguei até às 41 semanas e 3 dias com saúde e tranquilidade, sentindo segurança, bem informada sem correr o risco de procedimentos desnecessários, e parindo meu filho de forma normal mesmo tendo um parto demorado.

Muita gratidão por esse trabalho lindo!

O Nascimento de João

Por Clara Medeiros

Meu nome é Clara, no dia 29 de janeiro nasceu meu filho João Luís. Nasceu através de um parto domiciliar assistido pela equipe Moara. Durante o pré natal eu me consultava com a minha ginecologista obstetra, mas durante a gestação percebi que os posicionamentos da médica não se alinhavam aos nossos, principalmente, em relação ao parto. E então por esse motivo o pré natal coletivo foi muito importante para mim, porque eu me sentia bem mais acolhida do que no consultório. Até porque já estávamos nos preparando para o parto domiciliar com a equipe moara e também já tínhamos participado do curso para gestantes do espaço. Naquele momento foi altamente reconfortante o pré natal coletivo. A abordagem é feita em grupo, um lugar seguro e acolhedor em que podemos compartilhar nossas experiências com outras grávidas. Temos o acompanhamento profissional de Clarissa na ausculta, medição da barriga, aferição de pressão e atendimento humanizado e especializado. Participei também de dinâmicas de roda onde escreviamos o que estávamos sentindo sobre a experiência da gestação, nossas expectativas do parto. Um momento rico que unia um espaço de assistência profissional e também emocional através de conversas, dinâmicas de relaxamento específicos para gestantes e dicas de exercícios facilitadores para o trabalho de parto."
#PreNatalColetivo
#PartoHumanizado
#PartoDomiciliarPlanejado 

A chegada de Elis

Por Karla Larissa Jesus Santos

Há 1 semana você chegou. Em plena noite de São João, a noite mais festejada em todo Nordeste. Confesso que, apesar disso, nunca fui muito fã desta data, mas agora ela será de todas a mais especial para mim. Nada foi como planejei minuciosamente ao longo dos 9 meses. Mas, sim, como tinha que ser. Sonhei muito com um parto humanizado, natural, apesar de ter optado por ser hospitalar. Estudei meses a fio, li muito, participei de eventos e rodas de conversa, busquei me preparar física e psicologicamente e lutei a desgastante batalha de quem quer ter um parto normal no país vice campeão de cesáreas. Tive 3 médicas até chegar a uma que de fato apoiaria a minha decisão pelo parto normal, com nenhuma ou o mínimo possível de intervenções. Desde o comecinho, tive o apoio e a orientação da nossa querida enfermeira e doula Clarissa León e, principalmente, do seu pai, que sempre me apoiou em todas as decisões e também se empenhou para que você tivesse a melhor experiência de parto possível. 
Durante toda a gestação, tudo estava perfeito para o parto normal: nossa saúde estava muito bem e você logo permaneceu em posição cefálica. Era só esperar a hora. Mas você estava gostando da barriguinha da mamãe e mamãe continuava apegada à ideia de ter você só pra ela, ali protegidinha no ventre. 
Então, chegou a tal data provável e nada. As 40 semanas e nada. Mamãe tentava se manter tranquila, mas todos estavam ansiosos. O prazo, que tínhamos combinado com a médica, de 41 semanas se aproximava. Pelas recomendações da OMS, sabíamos que podíamos esperar até 42 semanas, mas poucos médicos brasileiros aceitam passar das 41 semanas. O coração de mamãe foi ficando apertadinho, pois o meu desejo era de que você chegasse da forma mais natural possível, que escolhesse o seu dia. Fiz de tudo para estimular a sua chegada antes desse prazo, sem precisar de procedimentos médicos: exercícios, relaxamentos, acupuntura, chá... o que me recomendassem e que fosse seguro pra você. Mas você parecia mais determinada do que eu a ficar mais um tempinho na sua piscininha. 
Depois de vários alarmes falsos com contrações de treinamento, chegou o dia em que você completou 41 semanas, e apenas o tampão havia saído. Fazendo acompanhamento com monitoragens e ultras, negociamos com a médica um prazo um pouco maior. Então, com 41 semanas + 2 dias faríamos a indução. Sabia que poderia ser um processo longo e doloroso, mesmo assim optei pela indução ao invés da cesárea. 
Fomos para o hospital ouvindo no carro o mantra "Entrego, confio, aceito e agradeço", que havia repetido durante toda a gestação e, inúmeras vezes, naquela última semana. Cheguei o mais tarde possível no hospital, ainda na esperança de entrar em tp.
A princípio a indução seria com medicação, mas quando cheguei ao hospital estava com 1 cm, com isso, a médica conseguiu induzir durante o toque.
As contrações logo começaram (por volta das 11h) e me animei. Desci e subi escadas dezenas de vezes, marcando as contrações que, finalmente, ganhavam força e ritmo. Enquanto isso, papai organizava internação. Fizemos outro toque e agora estava com 3 cm. Enquanto aguardava os exames para subir para o quarto, comecei a passar mal e a vomitar. As dores aumentavam e a intensidade do mal estar também. Foram pedidos medicação e soro. Mas demorou uma eternidade para chegar (quase 3h). Enquanto isso, meus planos de me manter ativa durante o TP iam por água (vômito) abaixo. Não conseguia fazer nada, além de tentar respirar fundo a cada contração. Tentei aliviar as dores no chuveiro quente algumas vezes. Mas, logo perdi a noção do tempo e não me sentia muito consciente da situação. Quem sabe estava no que chamam de partolândia. Pelo quarto, passaram minha mãe, minha irmã... Clarissa fazia a ausculta e seu pai não saia do meu lado. A médica tinha feito o último toque e estava ainda em 4cm. A bolsa estorou e pensei "agora vai". As contrações vieram com força total. Já não conseguia respirar, pensar, me movimentar, nada e ainda estava presa a bolsa de soro. Só sentia uma dor forte no pé da barriga que não sei descrever, meu corpo tremer, enquanto apertava forte a mão do seu pai e gemia de dor (na minha cabeça estava gritando, mas segundo Fred mal dava pra ouvir minha voz). 
Só ouvia Clarissa dizer "essas contrações estão tão fortes, que parece que você tomou ocitocina". Mas não tinha. Apenas soro.
Não sei quanto tempo passou até que a médica chegou para fazer o último toque. Eu não queria deitar na cama. Não conseguia pensar na dor que sentiria ao fazer o toque com aquelas contrações. E, então, deitei, dizendo "por favor, 8, por favor 8". Pois com 8cm, poderia tomar analgesia (a princípio eu não queria analgesia, mas aquela hora, já estava implorando). 
Quando ela tocou e disse 4 cm não pude acreditar. Para confirmar, ela pediu que Clarissa fizesse o toque também e confirmasse.
Foram mais de 3h de contrações sem dilatar nenhum centímetro. Já fazia quase 10h de TP e eu ainda estava com 4 cm e totalmente debilitada. 
Completamente fora de mim, fiz a mesma pergunta a médica umas cinco vezes. "Há quanto tempo não tenho dilatação? Com quantos cm estou?". 
Ela me deu a opção de esperar mais 2h e torcer para dilatar pelo menos 1 cm ou partir para cesárea. Ela explicou que as contrações já estavam fortes, então, não adiantava aplicar ocitocina, por exemplo.
Lá estava eu diante da decisão que não queria tomar. Mas a dor já tinha se transformado em sofrimento.
Minha cabeça rodava, as dores não paravam. Eu sabia que não aguentaria mais nenhum minuto daquela situação, mas não queria desistir. 
Ao final, decidi pela cesárea, pois o mais importante era ter minha filha saudável nos meus braços e isso eu poderia ter logo em poucos minutos. 
O trajeto do quarto até a sala de cirurgia foi o mais longo que já fiz. Ainda me contorcia de dor, implorava pelo anestesista e estava com a roupa toda suja de líquido amniótico e vômito (a gente pensa cada coisa nessas horas. Só pensava que não queria conhecer minha filha naquele estado e que deveria tomar pelo menos um banho). 
Tomei a anestesia, me tremendo na mesa de operações, entre uma contração e outra, morrendo de medo de ficar paralisada. Meu corpo adormeceu e logo não sentia mais dores. Minha cabeça voltou a funcionar e falava pra médica "Doutora, aproveita e faz uma laqueadura. Nunca mais quero sentir essa dor na vida!". Haha
Para a pediatra, lembrava tudo que tinha planejado no meu plano de parto para os cuidados com você. Também pedi para tocarem sua música para você nascer.
Antes da cirurgia começar, mais uma emoção. Seu pai começou a passar mal e quase desmaiou! Hehe Recuperado, voltou a sala e tudo começou. 
Em pouco tempo, você nasceu, às 21h41 de 24 de junho de 2018, com 50 cm, 3.860 kg. Consegui ver seu rostinho logo que você saiu. Você nem chorou. Só deu um gemidinho e veio pro meu colo. Eu e papai também não choramos. Cantei para você a música que saía do som " I've got sunshine on a cloudy day/When it's cold outside I've got the month of May/
Well I guess you'd say/
What can make me feel this way?/
My girl (my girl, my girl)/
Talkin' 'bout my girl (my girl)"
E me dei conta que nada mais no mundo importava. Só ter você ali, nos meus braços, toda perfeita, saudável.
Também me dei conta de que, no final de tudo, também tinha tido o meu tão desejado parto humanizado. Sim, porque cesárea também pode e deve ser humanizada. A equipe respeitou todas as nossas vontades (entrar em trabalho de parto, optar pela cesárea de forma consciente sem falsas indicações, respeitar o tempo de 5 minutos para cortar cordão umbilical, contato pele a pele, mamada na primeira hora, não dar o banho no berçário). 
Enquanto finalizavam o procedimento, todos na sala de cirurgia cantavam juntos comigo outras musiquinhas que você tanto ouviu na barriga. Não poderia desejar para você um jeito mais feliz de chegar a esse mundo. Muito obrigada por essa experiência, por ser meu raio de sol em um dia nublado.  

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